No início deste mês de setembro, com a divulgação da forte imagem do menino sírio cujo corpo foi encontrado em uma praia da Turquia, todos os corações, principalmente das mães, se aproximaram. Não havia distância, raça ou situação capaz de conter a união desses corações na dor que é a morte de um filho.
Todas unidas nesse sentimento fomos capazes de colaborar para o despertar do mundo para uma visão mais humana, para o cuidado com a vida e para o valor de cada ser humano. Ficou nítida e clara a força que expressamos ao dizer que “a dor de uma mulher é a dor de todas as mulheres”, olha como nossos laços femininos são fortes! Temos uma ligação muito intensa com a Terra e com os ciclos da vida e, por isso, conseguimos perceber, cada vez com mais clareza, que a vida é um propósito divino.
Me chamou a atenção a sincronicidade desse acontecimento vir a tona neste mês de setembro, mês em que, no hemisfério norte, é celebrado o equinócio de outono, período que marca o início da diminuição da luz e, portanto, o início de uma jornada mais introspectiva, rumo a sua própria sombra. E, neste período, muitas mulheres costumam encenar o mito de Perséfone e Deméter, onde Deméter vivencia a dor da perda de sua filha e o resgate de sua própria força, enquanto Perséfone sai para sua jornada rumo ao submundo se conectando de forma intensa com a sua essência e missão interior.
Além disso, o contato com a morte fortalece a importância da vida, estamos em um planeta que é o único, em um conjunto de tantos outros planetas já estudados até agora, que permite a vida da forma como a conhecemos hoje. Somos abençoadas com chuvas sagradas de água enquanto em outros planetas as chuvas são de ácido ou outros elementos tóxicos. Como podemos quantificar o valor da vida? Precisamos ajudar o mundo a reconhecer a preciosidade que é estarmos vivos. E isso implica em romper um “condicionamento” que temos de ver tudo através do ponto de vista “normótico”, prático e estratégico.
Por que a vida vale a pena?
Perdemos, nesses anos de condicionamento, a identificação e a expressão da nossa essência na vida. E nesses momentos em que nos unimos na força do laço da maternidade, por exemplo, vivenciamos a necessidade do resgate do poder ancestral feminino em que reconhecemos na vida o “milagre” que ela é: o milagre que cada pessoa é, a importância que é o nascimento e a morte de cada ser, a força do abraço e do colo, a necessidade do cuidado, da compaixão, a maravilha da diversidade, a construção dos relacionamentos saudáveis e muitas outras questões que trazem o sentido e a motivação para a vida e para o viver.
É hora de mergulharmos nas nossas sombras e resgatarmos essas forças femininas, para que elas possam ser vistas, sentidas, vivenciadas e valorizadas por todos cada vez mais.